Antes de se jogar do alto da meditação e medição dos riscos para se lançar no precipício prático, ele compreendeu seu dilema:
Era vontade versus cautela.
Se uma abria as portas para o mundo concreto, palco de atuações selvagens,
a outra devassava seu abstrato universo interior.
Se uma admitia a vivência intensa, livre das censuras trazidas pelas meditações,
a outra censurava a compreensão da vida enquanto risco constante por uma sensação de segurança e estabilidade.
Pura discrepância filosófica, questão de inclinação de espírito.
E na balança da vida prática para a qual resolvera sorrir como promessa de ano novo, os sentidos viraram reverendos, adeptos da justiça - cegos e tendenciosos - decidiram condenar os anjos da abstração em pró dos caprichos do demônio mais íntimo: instinto.
Escolheu o prazer.
Cerrou os olhos para o perigo.
e se permitiu livre por alguns instantes para, dentro deles, largar-se nas mãos do acaso, abrir mão do próprio governo.